Estudo desenvolvido na ESEC revela: redes sociais e populismo amplificam a polarização entre os jovens eleitores

Um estudo recente liderado por investigadores do Instituto Politécnico de Coimbra revela que as atitudes populistas e o uso de redes sociais específicas estão a amplificar significativamente a polarização afetiva entre os jovens eleitores portugueses. A investigação, publicada na revista científica Social Sciences, analisou o comportamento de jovens primeiros-votantes, com idades entre os 18 e os 21 anos, no período imediatamente a seguir às Eleições Legislativas de março de 2024.

O estudo, intitulado “The Polarization Paradox: Social Media, Young Voters, and the Challenges to the Open Society”, conclui que:

  • Indivíduos com atitudes populistas têm 27% mais probabilidade de exibir polarização afetiva, caracterizada por hostilidade emocional em relação a quem tem crenças políticas diferentes.
  • O apoio a narrativas da direita radical, analisado através da concordância com a retórica anti-“ideologia de género”, está associado a um aumento de 27,6% nos níveis de polarização.
  • A plataforma social utilizada é um fator crucial. Os utilizadores do X (antigo Twitter) demonstraram níveis de polarização significativamente mais elevados do que os utilizadores do Instagram. Esta diferença é atribuída à arquitetura e aos algoritmos de cada plataforma, sendo que o X, pela sua natureza de debate público e textual, tende a amplificar o confronto ideológico.

Os dados para este estudo foram recolhidos num momento crítico para a formação da opinião política dos jovens: entre 26 de fevereiro e 5 de março de 2024, na reta final da campanha eleitoral e na sequência imediata do ato eleitoral de 10 de março. Este período permitiu captar atitudes e perceções num período de elevado envolvimento e sensibilidade política.
Os resultados destacam um paradoxo central da era digital: enquanto as plataformas de social media amplificam as vozes e facilitam o acesso à informação, as suas arquiteturas algorítmicas podem simultaneamente corroer os alicerces do debate democrático racional, favorecendo a fragmentação e o antagonismo identitário.
“Estas descobertas são um alerta para educadores, legisladores e para a sociedade em geral,” afirma Gil Baptista Ferreira, investigador principal do estudo. “A polarização afetiva, alimentada por certos ecossistemas digitais, representa um risco tangível para a saúde da nossa democracia, na medida em que dificulta o diálogo, o compromisso e a coesão social. Urge repensar a literacia digital e mediar o papel destas plataformas na esfera pública.”
O estudo foi desenvolvido por Gil Baptista Ferreira e Lourenço Silva Ferreira da Escola Superior de Educação do Politécnico de Coimbra, no âmbito de uma linha de investigação focada na interseção entre comunicação, política e sociedade digital.

10.09.2025