Projeto Internacional “Human Motor Behavior Lifespan” visa compreender o comportamento motor ao longo da vida

O projeto “Human Motor Behavior LifeSpan” iniciou em 2020 com a participação do IP de Coimbra e da Universidade de Cabo Verde. Posteriormente, em 2022, a Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique, também se juntou à iniciativa. Em 2023, a colaboração expandiu-se para incluir a Universidade de São Tomé.

O coordenador do projeto, Rui Mendes, considera que o principal objetivo do projeto é capacitar estudantes na área de Ciências do Desporto, preparando-os para recolher e analisar dados sobre o comportamento motor em pessoas de diferentes faixas etárias. Através dessas análises, procura-se compreender as variações sociais no comportamento motor em diferentes países lusófonos, identificando indicadores de qualidade de vida e vitalidade das populações.

Atualmente, encontram-se em mobilidade na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), seis estudantes selecionados pelas instituições parceiras. Esses estudantes, provenientes de Moçambique e Cabo Verde, estão envolvidos num programa que visa desenvolver suas capacidades de pesquisa e aplicação de testes motores em diversas populações, desde crianças até adultos mais velhos.

Rui Mendes destacou que os estudantes não estão apenas a frequentar disciplinas regulares, mas estão envolvidos num trabalho de pesquisa científica prática. Eles adquirem competências em coleta de dados, aplicação de testes e análise estatística, além de receberem formação para poderem partilhar seus conhecimentos com colegas nos seus países de origem.

É importante ressaltar que os estudantes envolvidos no projeto são todos do segundo ano da licenciatura, garantindo que possam contribuir com o projeto por um período de aproximadamente dois anos antes de concluírem seus estudos.

Em relação aos resultados esperados, Rui Mendes enfatizou que o projeto visa não apenas produzir conhecimento académico, mas também identificar problemas relacionados com o comportamento motor que podem passar despercebidos ao longo da vida das pessoas. Através da colaboração intercultural, o projeto procura promover uma compreensão mais ampla do comportamento motor em países lusófonos e contribuir para melhorias na qualidade de vida e saúde das populações.

Com a mobilidade de professores e estudantes programada ao longo do projeto, espera-se uma troca contínua de conhecimento e experiências entre as instituições participantes, culminando em resultados concretos que beneficiarão tanto a comunidade académica como a sociedade em geral.

ESEC: Quais são as instituições que envolvem este projeto internacional e quais são os seus principais objetivos?

Rui Mendes: O projeto “Comportamento Motor ao Longo da Vida” (Human Motor Behavior LifeSpan) teve sua origem na candidatura de 2020, envolvendo o Instituto Politécnico de Coimbra e a Universidade de Cabo Verde. Em 2022, tivemos oportunidade de ser novamente contemplados com uma , expandindo a colaboração para incluir a Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique, além da Universidade de Cabo Verde. No ano seguinte, em 2023, o projeto foi novamente financiado, integrando não apenas as três instituições mencionadas anteriormente, mas também a Universidade de São Tomé e Príncipe.

Na essência, o objetivo do trabalho é dotar e formar estudantes na área das Ciências do Desporto, permitindo-lhes participar e contribuir na recolha e análise do comportamento motor, incluindo escalas de desenvolvimento e avaliação quer da condição física, quer da competência e coordenação motora em pessoas de diferentes faixas etárias. Na essência, o projeto tem um objetivo muito simples que é tentar perceber as alterações que existem do ponto de vista social nos diferentes países, utilizando dados para identificar se as pessoas apresentam níveis de condição física mais elevados ou se apresentam dificuldades motoras relacionadas com aspetos da coordenação motora. Esses indicadores são essenciais para avaliar a vitalidade e a qualidade de vida das diferentes populações envolvidas.

ESEC: Neste momento encontram-se na ESEC seis estudantes das universidades parceiras em mobilidade.

Rui Mendes: Estão seis estudantes selecionados pelas entidades parceiras, não são por nós, de acordo com critérios específicos. Nós tentamos sempre que seja garantida a representação equilibrada de ambos os sexos, atendendo a que vamos trabalhar especificamente quer em Portugal, quer depois em Cabo Verde e Moçambique, onde faremos avaliação em crianças, tanto meninas como meninos, rapazes e raparigas, homens e mulheres. Desse ponto de vista, tentamos sempre que isso seja concretizado. No caso de Moçambique, temos duas estudantes, e um estudante, todos de Maputo. De Cabo Verde é um estudante e uma estudante da ilha de Santiago e um estudante da ilha de São Vicente, onde a Faculdade de Educação e Desporto tem um polo, o que possibilita a participação de estudantes de ambas as ilhas.

ESEC: E está prevista também a participação de estudantes de São Tomé.

Rui Mendes: Os estudantes de São Tomé são estudantes que irão vir com novos estudantes de Moçambique e de Cabo Verde, neste caso no dia 1 de fevereiro de 2025.

Portanto, nessa altura, teremos dois estudantes de cada país, totalizando seis estudantes conforme o previsto e financiado. Além disso, há também mobilidade de professores que nos permite coordenar as atividades relacionadas à organização do próprio trabalho. Recentemente, estivemos em Cabo Verde, onde organizámos em dezembro último, um seminário internacional. Se tudo correr bem, ainda em abril, iremos organizar um novo seminário, envolvendo as entidades parceiras. Além disso, no final de maio, três dos professores envolvidos no projeto vão realizar mobilidade – eu próprio, o professor Francisco Campos e o professor Ricardo Gomes, teremos uma semana trabalho intenso na cidade de Maputo.

ESEC: Qual é o trabalho que os estudantes que se encontram na ESEC estão a desenvolver e que competências é que eles estão a adquirir aqui na escola?

Rui Mendes: Ao contrário do que os estudantes pensam, eles não vêm propriamente fazer disciplinas, ou seja, não vêm fazer unidades curriculares, eles estão envolvidos num trabalho de fundo que é a sua competência de estudar, portanto, como é que se aplica um determinado procedimento específico de recolha de dados. No fundo, o que eles fazem é uma verdadeira bolsa de iniciação científica.

Embora os estudantes participem em unidades curriculares, não são avaliados, mas vão obter informação para aquilo que querem fazer. Por exemplo, os estudantes apesar de serem de licenciatura, frequentam unidades curriculares de mestrado para adquirir competências como a aplicação duma determinada bateria de testes. Eles testam com os colegas de desporto e lazer, mas há também um trabalho constante semanal com um grupo de crianças do 1º ciclo e ensino básico do Agrupamento Eugénio de Castro, com quem temos um projeto infantil há muitos anos. Com essas crianças podem treinar as suas competências de tal forma que, no final, eles não só têm os manuais, os tutoriais que eles próprios fizeram, as fichas de registo. Também realizam uma ação de formação sob a nossa supervisão, para os colegas de cada um dos países. Quando chegarem quer a Moçambique, quer a Cabo Verde, têm capacidade, com a ajuda e um enquadramento dos professores, rapidamente formarem os seus colegas com supervisão dos professores, para utilizar os materiais que têm nos seus laboratórios, de pesquisa e partirem para o terreno para recolherem dado. Esses dados podem gerar informação para os seus próprios projetos de pesquisa, teses ou para trabalho de mestrado ou para trabalhos mais vastos que nós queremos fazer, estabelecendo parcerias objetivamente no ponto de vista de investigação com as respetivas universidades.

ESEC: Neste momento estes estudantes encontram-se a frequentar a licenciatura?

Rui Mendes:  São todos estudantes de licenciatura. Normalmente são estudantes do 2º ano porquê, não nos interessa que os estudantes do último ano que estão em estágio e saem imediatamente, ou seja, importa que eles ao retornar para a instituição, ainda estejam sensivelmente 2 anos com a possibilidade de dar o seu contributo e devolver aos colegas que não vieram, o conhecimento que aqui adquiriram, e basicamente é isso, não é? Ah, só para ter uma ideia, o projeto gera informação que permite não só dar continuidade a projetos académicos nomeadamente teses de mestrado ou de licenciatura, mas também outras que eventualmente desenvolvem com colegas das respetivas universidades que querem fazer eventualmente doutoramentos em Portugal e dar continuidade ao projeto de uma forma mais subjacente.

ESEC: Quais os resultados concretos que vamos ter no final deste projeto?

Rui Mendes: Deparámo-nos recentemente com uma coincidência, o nome do projeto em que estamos envolvidos há cerca de dois anos, “Human Motor Behavior Life Span”, coincidiu com o tema de um dos grupos da nossa nova unidade de investigação, o SPRINT. Na altura, optei por não sugerir nenhum nome para evitar influenciar a escolha, mas isso levanta questões interessantes sobre o conhecimento que temos do corpo humano e do comportamento das pessoas, não é restrito à fase da infância como é evidente, é ao longo da vida. Isso é crucial, pois há um conjunto de fatores que estão associados à perda da capacidade motora das pessoas, ou pela idade, ou pela falta de atividade física, que criam um conjunto de problemas que podem ser mais ou menos cíclicos e variam de acordo com diferentes realidades culturais e sociais.

Em Portugal, temos uma taxa de inatividade física de 74%, bastante elevada e que afeta todas as faixas etárias. No entanto, essa realidade não é igual nos outros países, que têm realidades distintas.

Recentemente, fomos convidados a participar numa conferência em Moçambique precisamente para discutir o planeamento das aulas de educação física nos diferentes países. O nosso objetivo é reunir informação transcultural, para perceber o que acontece no mundo Lusófono em relação ao comportamento motor das pessoas, e identificar problemas, como distúrbios de comportamento motor que podem passar despercebidos durante a sua vida académica. Podem ter sucesso, mas ficam condicionadas porque a lateralidade, por exemplo, não é relevante para a pessoa sobreviver, mas é muito importante para ela resolver um conjunto de problemas, desde conduzir com segurança e e evitar acidentes rodoviários.

 


Quem são os estudantes que se encontram em mobilidade internacional na ESEC

No âmbito do projeto internacional “Human Motor Behavior Life Span“, seis estudantes encontram-se na ESEC a realizar mobilidade internacional, três de Cabo Verde e três de Moçambique, sob a coordenação de Rui Mendes. As entrevistas aos estudantes refletem o impacto positivo desta colaboração internacional na formação académica e profissional dos participantes. Procurámos saber quais as perspetivas e experiências dos estudantes envolvidos no projeto.

 

Margarida Chihururo é uma das estudantes da Universidade Pedagógica de Maputo que integra o projeto de investigação internacional. Quando recebeu a notícia de que tinha sido uma das alunas selecionadas, nem queria acreditar. ‘Fiquei eufórica’, revela. Em Coimbra desde fevereiro, a estudante afirma que tem aprendido bastante, tanto na utilização de equipamento como na abordagem educacional. Realçou a forte componente prática em Coimbra, em comparação com a predominância da teoria em Maputo.

A estudante de Educação Física expressou a sua satisfação por estar a integrar um projeto de investigação pela primeira vez e afirmou que pretende aplicar os conhecimentos adquiridos em Moçambique. ‘Vou levar muitos conhecimentos para o meu país e também para mim, para o resto da minha vida’, destacou.

Sobre seus planos futuros, Margarida Chihururo manifestou o desejo de continuar a estudar, possivelmente prosseguindo estudos para mestrado e, quem sabe, doutoramento na sua área de interesse para investigação: atividade física em saúde.

Margarida expressou a sua satisfação com a cidade e a escola, afirmando que tudo está a correr bem, apesar da falta inicial de familiaridade com o clima mais frio.

 

João Ramos estuda Educação Física na Universidade de Cabo Verde e atualmente integra o projeto internacional na ESEC. “Esta oportunidade surgiu através de uma seleção feita pelos coordenadores do projeto. Eu e meus colegas fomos escolhidos e ficamos muito satisfeitos com essa oportunidade”.

Quando questionado sobre o que espera levar do projeto para Cabo Verde, Ramos destacou o conhecimento adquirido e a oportunidade de interagir com diferentes culturas. “Estou confiante de que poderei levar muitos conhecimentos úteis e uma experiência enriquecedora para minha terra natal”, afirmou.

João Ramos realçou as diferenças entre o ensino na ESEC e em Cabo Verde, apontando para as melhores condições e recursos disponíveis em Coimbra para o projeto que envolve pesquisa científica sobre o desenvolvimento motor ao longo da vida.

“Estou a gostar muito da minha experiência aqui na ESEC. Coimbra é uma cidade linda e estou a apreciar bastante o clima. O meu objetivo é continuar meus estudos e aproveitar outras oportunidades para voltar aqui no futuro”, concluiu Ramos.

 

Ivanésia Baiane é da cidade da Praia e estuda Educação Física de Desporto na Universidade de Cabo Verde. Está em Coimbra desde fevereiro e sobre a sua participação no projeto revelou que “esta é uma grande oportunidade para mim. Fui selecionada pelos professores da minha universidade para participar deste projeto, juntamente com um colega da cidade da Praia”.

Ivanésia Baiane, que pratica atletismo e está a aprender basebol, destacou a oportunidade de praticar atletismo durante as aulas na ESEC e a sua intenção de encontrar um clube local para treinar durante sua estadia em Coimbra.

Quando questionada sobre o que espera levar do projeto para Cabo Verde, Baiane destacou o conhecimento adquirido e a oportunidade de interagir com outra cultura. “Espero levar muito conhecimento e experiência para minha terra natal. Aprendi muito sobre educação e cultura aqui em Coimbra”, afirmou.

Sobre seus planos futuros, Ivanésia Baiane expressou o desejo de continuar seus estudos, possivelmente fazendo um mestrado em Coimbra, e explorar uma carreira como professora de educação física, com interesse especial em áreas relacionadas à saúde.

Ivanésia elogiou a beleza da cidade da cidade de Coimbra e sua integração na comunidade, incluindo a participação em atividades locais como a caminhada às quartas-feiras [Night Runners Coimbra].

Danielson Fortes, estudante da Faculdade de Educação e Desporto da Universidade de Cabo Verde é um dos estudantes em mobilidade na ESEC.

“Estou a gostar imenso da experiência. Já realizamos testes de competência motora em atletas, embora ainda não tenhamos aprendido a analisar os dados”, revelou sobre o progresso do projeto até o momento.

O estudante está otimista sobre o impacto futuro do projeto em sua carreira, “acredito que esta experiência enriquecerá a minha bagagem profissional e trará novas oportunidades. Já estou a pensar em fazer um mestrado em Fisioterapia após concluir o meu curso de educação física”, afirmou.

Sobre as diferenças entre o ensino em Coimbra e em Cabo Verde, Fortes notou que Coimbra oferece mais condições para a prática de atividades desportivas do que a sua cidade natal, São Vicente.

Sobre a sua integração na cidade de Coimbra, Danielson Fortes elogiou a tranquilidade da cidade em comparação com sua cidade natal e expressou sua satisfação com a receção calorosa que recebeu.

Mungueze Domingos é estudante da Universidade Pedagógica de Maputo, Faculdade de Educação Física de Desporto, encontra-se atualmente na ESEC no âmbito do projeto internacional.

“É uma oportunidade incrível estar aqui em Portugal, especialmente nesta prestigiada instituição. Estou a aprender muito e a ganhar uma valiosa experiência”, afirmou Domingos sobre sua experiência em Coimbra.

Relativamente à sua participação no projeto, Domingos salientou o desafio, mas também reconheceu o valor da orientação do professor Rui Mendes. “É um desafio, mas estamos a adaptar-nos. O professor Rui é rigoroso, mas estamos a habituar-nos. Os primeiros dias foram intensos, mas está a valer a pena”, revelou o estudante.

Domingos destacou a importância do projeto para Moçambique, especialmente em termos de pesquisa e saúde. “Acredito que podemos aplicar muito do que aprendemos aqui na nossa faculdade. Os conhecimentos aqui adquiridos serão uma grande contribuição para nossa comunidade académica”, afirmou.

Domingos expressou seu desejo de continuar seus estudos, “Esta oportunidade abre portas para o futuro. Espero continuar meus estudos, possivelmente em mestrado, e contribuir ainda mais para a pesquisa em nosso país”, concluiu o estudante.

Luísa Maiwana é uma das estudantes da Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Pedagógica de Maputo que integra o projeto.

“Esta é a primeira vez que participo de um projeto internacional, uma experiência nova para mim”, disse Maiwana sobre sua participação no programa.

Luísa Maiwana destacou a importância do projeto para o seu desenvolvimento académico e profissional. “Esta experiência certamente abrirá portas para mim e para meus colegas em Moçambique. Será uma grande honra aplicar os conhecimentos adquiridos na nossa instituição”, afirmou Luísa que revelou ainda o seu interesse em prosseguir estudos na área do treino desportivo.

Sobre as diferenças entre o ensino em Coimbra e em Maputo, a estudante mencionou a abordagem prática adotada na ESEC, destacando a relação entre teoria e prática.

Durante a sua presença em Coimbra, revelou que tem participado em atividades da cidade, incluindo a Coimbra Night Runners, e elogiou o acolhimento recebido na cidade. “Fui bem acolhida aqui em Coimbra, tanto pelos professores quanto pelos funcionários. Pretendo aproveitar ao máximo essa oportunidade e contribuir da melhor forma possível para o projeto”, concluiu Luísa Maiwana.