O Impacto da pandemia na sociedade- Teatro e Educação

OXALÁ!

Todos temos uma perceção, pelo menos cutânea, do abalo que a pandemia está a causar em todos os níveis da nossa vida. A começar pela nossa subjetividade: a consciência e o medo da  precaridade da nossa existência, a nossa relação com os outros e com os mais diversos aspetos da nossa intimidade, a ginástica que temos de praticar para mantermos alguma serenidade e domínio emocional….e tantas outras questões que alteram quotidianamente os nossos hábitos e as conversas com os nossos botões.

Noutro enquadramento, que genericamente podemos titular de político, das relações económicas, da gestão do mundo e da polis… as consequências já são, e vão continuar a ser, tremendas. E tremendas não significa sempre e obrigatoriamente negativas e catastróficas. Só para dar um exemplo, que nos diz respeito: a Escola, no seu conceito abstrato, não voltará a ser a mesma e só será pior se não soubermos reinventar atitudes, metodologias e objetivos, a partir do que já sabíamos e do que estamos a aprender.

Estas questões, com todas as suas desmultiplicações temáticas, serão matéria de análise e estudo nos próximos anos. Não tenho saber nem competência para entrar nessa discussão. O mesmo se passa no domínio que mais me diz respeito: a Cultura. Não sei o que vai ser daqui para a frente. Há, no entanto, alguns aspetos que a pandemia revelou que me deixam esperançoso.

Como noutros setores, (no Turismo, na Restauração, na Saúde…) também na Cultura a pandemia explodiu em bomba. Pôs a nu o que toda a gente sabia e ninguém queria ver: uma atividade subvencionada, subvalorizada, marginal, tolerada…

O que aconteceu neste último ano? Sim!: o colapso quase total das atividades culturais com o consequente sofrimento de muitos milhares de pessoas que delas dependem. Mas:

os agentes culturais demonstraram uma capacidade de resistência, reinvenção, revindicação, solidariedade e paixão inéditos, que teve um largo eco naqueles para quem trabalham. Pela primeira vez, a sua voz teve resposta solidária nos destinatários da sua ação. Largos setores da população entenderam que os trabalhadores da cultura não são uns inúteis e subsidiodependentes. Esse discurso, tão glosado até por quem deveria ter outra visão e entendimento, desapareceu. Afinal, sem cultura, nas suas diversas conjugações, falta qualquer coisa à nossa vida individual e coletiva. Esta descoberta foi/é um facto. Em consequência disto, desta simultaneidade percetiva entre criadores e público, o Ministério da Cultura, inicialmente resistente, dá alguns sinais no sentido de pensar a Cultura a partir dos rumores que lhe chegam da sociedade. Não sei se vai ficar tudo bem. Mas vai ficar tudo diferente. Espero não ser engolido pela minha ingenuidade. Preferia ser banhado pela minha esperança. É um risco!

António Fonseca – ator – prof. no Curso de Teatro e Educação da ESEC