Dina Soeiro reeleita para a Associação Europeia para a Educação de Adultos

“Quero continuar a contribuir para a promoção de oportunidades de aprendizagem para as pessoas idosas, para a aprendizagem intergeracional”

Dina Soeiro, docente da ESEC e uma das responsáveis pelo Projeto “Letras Prá Vida” foi reeleita para a Direção da European Association for the Education of Adults – EAEA no decorrer da Assembleia Geral realizada online a 22 de junho.

A Associação Europeia para a Educação de Adultos (EAEA), uma ONG europeia constituída por 124 organizações de 43 países, representa mais de 60 milhões de estudantes em toda a Europa e tem como objetivo unir e representar organizações europeias diretamente envolvidas na educação de adultos.

Fundada em 1953, a EAEA promove a educação de adultos, o acesso e a participação na educação não formal de adultos para todos, especialmente para grupos atualmente sub-representados.

A EAEA desenvolve um trabalho de advocacia política pela educação de adultos integrada na educação e aprendizagem ao longo da vida, a nível Europeu, desenvolve práticas através de projetos, publicações e formação, disponibiliza informação e vários serviços aos membros, para além de promover a cooperação internacional.

A docente da ESEC integra a direção da EAEA desde 2019 e quisemos saber mais sobre o seu contributo para a EAEA e as suas perspetivas sobre a Educação de Adultos.

– Que significado tem para si esta reeleição?

Dina Soeiro – Uma oportunidade para contribuir, a nível europeu e nacional, para a visibilidade da importância da educação das pessoas mais velhas, a valorização da educação não formal e da educação de adultos como um direito e bem público, com objetivos que vão muito além da qualificação e emprego, como a cidadania ativa, a saúde e bem-estar, e a felicidade.

Quero continuar a contribuir para a promoção de oportunidades de aprendizagem para as pessoas idosas, para a aprendizagem intergeracional.

A Aprendizagem e Educação de Adultos tem um enorme potencial de resiliência nesta crise pandémica. Nessas águas revoltas, temos de garantir que todos estão a bordo!
A EAEA está empenhada em promover uma estratégia de saída inclusiva desta crise e quero contribuir para esse esforço.

Vou defender o direito à aprendizagem e à educação para todos, como um bem público, especialmente para aqueles que perderam a esperança na educação. Uma “Europa da Aprendizagem” onde ninguém fica para trás e a aprendizagem e a educação são o caminho para uma cidadania ativa, para a felicidade e bem-estar!

Acredito na defesa da Educação de Adultos com coração, com uma paixão entusiasta pela Aprendizagem e Educação para Todos que seja contagiante, que seja capaz de envolver e comprometer políticos e a sociedade.

Quero continuar a contribuir para a EAEA com meu compromisso, minha experiência, a minha vontade de aprender e compartilhar e com minha paixão pela Educação e Aprendizagem de Adultos.

– Quais são os principais desafios da Executive Board agora eleita?

Dina Soeiro – A crise pandémica que vivemos veio mostrar a importância da educação e aprendizagem das pessoas adultas para a saúde e bem-estar, para as competências digitais, para as competências para a vida, para a cidadania activa, para a democracia e o desenvolvimento pessoal e colectivo, verde e inclusivo.

Esta nova equipa, constituída por pessoas com perfis e de geografias diversas, vai trabalhar para a valorização e o reconhecimento da aprendizagem e educação de adultos, para o apoio às organizações da educação de adultos, que sofreram um impacto muito negativo com a pandemia.

Vamos lutar por um investimento público estável e sólido na Educação de Adultos na Europa e em Portugal, fortalecer e alargar as políticas de educação de adultos, para além de objetivos de qualificação mais restritos: Educação de Adultos para a Vida, não apenas para a economia, integrada numa estratégia de aprendizagem ao longo da vida que considere e valorize igualmente a aprendizagem formal, não formal e informal.

Por exemplo, vamos trabalhar na campanha “We are ALE” /”Somos Aprendizagem e Educação de Adultos”, é uma aliança global de redes, associações e organizações que promove o reconhecimento da importância fundamental da Aprendizagem e Educação de Adultos para a justiça, o bem-estar e a mudança. Este será um instrumento internacional valioso para a nossa missão.

Para além da ESEC e da Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente que já a integraram, pretendo envolver outras organizações portuguesas, dando visibilidade a Portugal na campanha e visibilidade da campanha em Portugal. A ideia é trabalhar nos dois sentidos.

Por isso, convido as organizações que trabalham na educação de adultos para subscreverem a campanha: https://www.we-are-ale.org/home/, assim como seguirem a campanha nas redes sociais: https://www.facebook.com/weareALE; https://twitter.com/weareALE; https://www.instagram.com/weareale2025/

A EAEA está também a colaborar com a UNESCO na preparação da CONFINTEA, que se realizará em Marrocos, em 2022. Será a maior e mais importante Conferência Internacional de Educação de Adultos. Terá um impacto muito relevante nas políticas e nas práticas da educação de adultos no mundo.

A EAEA define um tema para cada ano, este ano estamos a trabalhar sobre a Digitalização e Democracia.

Para 2022, o tema será “Aprendizagem Transformativa e Educação para a Cidadania”. Tendo sido áreas onde o nosso trabalho dos Projetos Letras Prá Vida e Literacia para a Democracia se integra, fico muito satisfeita por esta proposta.

Para 2023, será proposto o tema da “Educação para a Sustentabilidade”.

– Como compara a Educação de Adultos em Portugal com os restantes países da Europa?

Dina Soeiro – A Educação de Adultos em Portugal conta com a Agência para a Qualificação e o Ensino Profissional que tem feito um trabalho muito relevante para a qualificação das portuguesas e portugueses. Todavia, a sua intervenção tem sido limitada a essa dimensão formal da educação de adultos.

A Educação de Adultos em Portugal é muito rica e diversa, tem uma dimensão muito importante baseada na intervenção local e comunitária que não é reconhecida nem apoiada.

Ao contrário de outros países europeus, temos problemas estruturais, que foram agravados por esta crise, como a inconsistência e perspetiva limitada das políticas públicas; a falta de investimento estável e continuado; a rigidez dos programas públicos e quadros legais.

Por exemplo, em Portugal, o analfabetismo não é problema do passado, que esteja resolvido!

Reconhecendo este desafio, em 2018, o Governo Português teve uma importante iniciativa: solicitou o apoio da Comissão Europeia, designadamente, do Serviço de Apoio à Reforma Estrutural para criar o Plano Nacional de Literacia de Adultos.

A Associação Europeia para a Educação de Adultos foi convidada a prestar apoio técnico, tendo a Susana Oliveira coordenado uma equipa técnica e de investigação para o efeito, em parceria com o Governo Português. Foi um trabalho participado, de cocriação e compromisso, no qual tive o privilégio de participar.

Depositávamos muita esperança no Plano, mas o seu financiamento, enquadrado no Plano de Recuperação e Resiliência, passou, da fase de consulta pública para no PRR aprovado, de 110 para 40 milhões de euros, de 600 para 225 projetos!

É um investimento insuficiente para o tamanho do desafio que a alfabetização e literacia das portuguesas e portugueses exige.

Há muito caminho a percorrer em Portugal, e na Europa, para que a Educação de Adultos seja valorizada. Há uma influência das políticas europeias no contexto nacional, mas também há excelentes exemplos portugueses que devem ser reconhecidos e valorizados na Europa.

A EAEA tem o Prémio Grundtvig que pretende reconhecer e celebrar a excelência em educação de adultos e, este ano, fico muito feliz por se terem candidatado vários projetos portugueses!

Conto com a voz e envolvimento das pessoas e organizações portuguesas que trabalham na educação de adultos para nos juntarmos à voz da educação de adultos na Europa, para que seja mais forte, mais ouvida e mais mobilizadora.