50 Anos do 25 de Abril – Nos bastidores do processo criativo: Estudantes da ESEC criam logomarca e Exposição

À medida que Portugal se desdobra em iniciativas para celebrar o 50º aniversário do 25 de abril, uma dupla de estudantes, agora diplomadas em Arte e Design pela Escola Superior de Educação do Politécnico de Coimbra (ESEC), teve a oportunidade de contribuir para as comemorações. Carolina Remígio e Madalena Rodrigues não só tiveram a oportunidade de criar o logótipo para as comemorações, mas também foram responsáveis pela conceção gráfica da exposição “Ditadura, Revolução, Democracia” que em Coimbra pode ser visitada na Sala do Catálogo da Biblioteca Municipal desde fevereiro.

A proposta de criar a logomarca surgiu durante a realização do estágio curricular no último semestre do curso e foi recebida com entusiasmo e alguma incredulidade. “Num dia estávamos a desenvolver um projeto no âmbito académico sobre a nossa história nacional, e no outro já fazia parte de uma celebração tão significativa para o país”, refere Carolina. A responsabilidade tornou-se evidente à medida que o projeto avançava, especialmente ao compreender o alcance que a sua criação teria. Madalena acrescenta: “Foi uma grande oportunidade, mas só percebemos a verdadeira dimensão do projeto quando nos reunimos com as entidades envolvidas e delineamos os objetivos”.

Ao abordar a representação visual do 25 de abril, as ex-estudantes enfatizaram a importância de uma abordagem simples e memorável. “Queríamos uma representação que fosse direta e remetesse à história nacional”, explica Madalena. “Foi um processo de muitos esboços e resolução de problemas até chegarmos ao logo oficial”, complementa. Carolina destaca que a ideia central era transmitir uma mensagem de proximidade com a história de Portugal: “A identidade visual concentra-se principalmente no cravo, símbolo destacado do dia da Revolução”.

Além da criação do logótipo, Carolina e Madalena foram responsáveis pela conceção gráfica da exposição “Ditadura, Revolução, Democracia” e em Coimbra pode ser visitada na Sala do Catálogo da Biblioteca Municipal desde fevereiro. “Queríamos uma abordagem dinâmica e acessível”, compartilha Madalena. “Foi um desafio organizar todo o conteúdo textual e visual para garantir que a exposição fosse coerente e cativante para o público de diferentes faixas etárias”, acrescenta Carolina.

A exposição concebida pela Comissão Consultiva Concelhia do Plano Nacional das Artes (PNA), pelo Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) – que assumiu a coordenação científica deste projeto – e pela Escola Superior de Coimbra (ESEC e que assinala dos 50 anos do 25 de abril, resultou de um trabalho criativo desenvolvido pelas designers sob a orientação da docente Sílvia Espada e com a colaboração dos docentes Isabel Azevedo e Pedro Maia (diretor de curso).

A reação positiva do público à exposição tem sido gratificante para as estudantes. “Ver o nosso trabalho apreciado pelo público, especialmente em locais de educação e cultura por todo o país, é uma sensação surreal”, diz Carolina. “Estamos felizes por contribuir para uma celebração tão importante para Portugal e por despertar o interesse das novas gerações pela nossa história”, conclui Madalena.

O trabalho de Carolina e Madalena não apenas adiciona uma dimensão criativa às comemorações do 25 de abril, mas também destaca o papel crucial do design gráfico na comunicação e interpretação de eventos históricos.

Entrevista completa:

Qual foi a vossa reação quando vos foi proposta a criação da logomarca das Comemorações dos 50 anos do 25 de abril? Sentiram o peso da responsabilidade?

Carolina:

Para a cadeira final do curso de Arte e Design da ESEC tínhamos a opção de ou realizar um projeto individual, ou fazer um estágio numa das instituições propostas pelos alunos ou pelos docentes. Apesar de ter proposto uma instituição de acolhimento para estágio, optei por fazer o projeto. No entanto, e pouco após o semestre iniciar, recebi um telefonema da minha amiga e parceira Madalena, para fazer parte do projeto 25 de Abril: Rumo ao Cinquentenário e assim ajudá-la na conceção das propostas do mesmo. Como era algum peso para uma pessoa só e após ter discutido um pouco com ela quais as tarefas que teria de me comprometer, decidi arriscar e aceitar o convite de fazer na mesma um projeto mas com a sua ajuda e de toda a equipa de investigadores científicos.

Inicialmente confesso que não senti o peso da responsabilidade em criar a identidade visual para este projeto. Era algo que faria parte dos objetivos do mesmo e por isso pensei que faria todo o sentido a criação de uma logomarca. Só mais tarde, com o desenvolvimento da identidade, discussão sobre a criação da mesma e reuniões com a equipa sobre várias questões associadas ao projeto, é que me “caiu a ficha”, por assim dizer, na grandeza e no alcance que a nossa logomarca iria ter principalmente por ser um projeto em parceria com várias entidades de reconhecimento nacional, nomeadamente a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril e o Plano Nacional das Artes.

Madalena:

Realmente foi uma grande oportunidade. Ao início, quando aceitamos o desafio, deram-nos a informação base do que se ia proceder mas ainda não tínhamos a consciência da dimensão do projeto e da sua importância de certo forma.

Na nossa primeira reunião com o CEIS20, o PNA e com a nossa orientadora de estágio é que delineamos o verdadeiro rumo desta iniciativa. E de facto, foi nesse momento que todo o processo começou oficialmente.

Qual foi a vossa abordagem para a representação visual de um momento histórico como foi o 25 de abril?

Madalena:

Nessa primeira reunião até apresentamos algumas ideias e estudos que desenvolvemos até à data, também para ter uma ideia mais concreta dos objetivos da comunicação e do público alvo.

Definimos que deveríamos ter uma representação simples e direta, memorável e remetente à história nacional. A partir desse momento foi um processo de muitos esquiços e de resolução de problemáticas até que conseguimos criar o logo oficial e o seu grafismo.

Quais os conceitos que pretendem transmitir através do logótipo?

Carolina:

Para a criação da identidade gráfica do projeto, elaboraram-se vários esquissos no âmbito do seu grafismo e simbolismo. Pensou-se em conceber um logótipo unicamente tipográfico, mas, mais tarde, conclui-se que seria mais benéfico e vantajoso para a natureza do projeto, criar um logótipo não só tipográfico mas também gráfico. Deste modo, concentramos a identidade visual essencialmente em torno do cravo, uma vez que é o símbolo que mais se destaca e simboliza o dia da Revolução.

Neste sentido, os conceitos e as mensagens que pretendemos transmitir através da identidade visual do projeto é de trazer uma certa lembrança e proximidade não só com todo o simbolismo da Revolução portuguesa como também da história de Portugal. Pela representação gráfica do cravo vermelho em conjunto com a tipografia verde é possível combinar num logótipo as cores da bandeira nacional da República Portuguesa. Dito isto, a identidade visual demonstra-se transversal por facilmente ser identificado e por se adaptar aos vários suportes e contextos onde estiver inserido.

Como se sentem ao ver o vosso trabalho ser parte desta celebração nacional?

Carolina:

É um sentimento um pouco surreal. Num dia estamos a desenvolver um projeto no âmbito académico de temática nacional, a estudar mais sobre o nosso passado, a nossa história de Portugal e como o antes (ditadura), o durante (revolução) e o após (democracia) do 25 de Abril de 1974 foi o culminar para as vidas que vivemos hoje e no outro, quase que num abrir e piscar de olhos, já está ao alcance de Portugal inteiro e a fazer parte de uma celebração maior que nós. Ver o nosso trabalho fazer parte desta celebração que é tão nossa, que nos relembra a importância desta luta nacional, é algo pela qual ainda nos custa acreditar.

Madalena:

Além de ser um orgulho de se ver o trabalho de equipa florescer e realmente fazer diferença para tantos jovens, penso que, o facto de tantas CIMs e CMs aderirem e acharem importante relembrar este marco histórico num ano tão importante, estamos a falar de 5 décadas de democracia, é algo maravilhoso.

 

Além da criação do logótipo, foram também responsáveis pela conceção gráfica da exposição “Ditadura, Revolução, Democracia”. Qual foi o principal objetivo que vos foi pedido para a criação desta exposição?

Madalena:

Referente à exposição gráfica e aos seus paineis roll-up, nós queríamos que a nossa abordagem fosse dinâmica, acessível e relacionada com os meios de comunicação da época. Foi aí que determinamos apresentar as fotos e textos com polaroids e postais. Ademais, a paleta de cor foi meticulosamente escolhida para o impacto e compreensão visual de cada temática concedida pelos investigadores do CEIS20.

Foi difícil equilibrarem a representação dos acontecimentos com a vossa própria expressão artística e criativa?

Carolina:

Penso que não. Apesar de termos uma expressão artística um pouco diferente em certos aspetos, no geral temos uma visão semelhante no que toca à representação e comunicação de uma mensagem em torno de um acontecimento. No que toca a este acontecimento em específico, de um modo muito intuitivo e objetivo, conseguimos perceber pelas duas a energia e as sensações que todo o design do projeto deveria ter e por conseguinte transmitir. Com isto em mente, certas opiniões e pontos de vista, naturalmente diferentes, tinham a capacidade de se complementarem muito bem, de uma forma equilibrada, limpa e harmoniosa. Neste sentido, todo o processo de conceção gráfica do projeto acabou por ser muito mais suave e entusiasmante, o que também ajudou na procura de alcançar não só objetivos no âmbito do projeto como também objetivos pessoais e profissionais dentro daquilo que é a nossa área de interesse, a nossa expressão criativa e a nossa procura de expandir e conhecer mais sobre o objeto e tema de trabalho.

Madalena:

Como designers, o nosso trabalho é resolver problemas visuais e comunicativos, para isso necessitamos de entender os objetivos e tentar desenvolver exatamente que os clientes e o público-alvo necessitam. Diria que não foi difícil equilibrar porque não só demos tudo de nós e o resultado demonstra sempre o nosso “traço” artístico, mas também, eu e a Carolina sabíamos que tínhamos uma expressão criativa semelhante e que trabalhávamos bem em equipa.

Qual o maior desafio durante o processo de conceção gráfica da exposição?

Carolina:

O maior desafio durante a conceção gráfica da exposição foi sem dúvida a distribuição e organização de todo o conteúdo textual e de imagética (fornecido pela equipa de investigação) com o conteúdo gráfico e complementar que gostaríamos de incluir. De forma a resultar numa exposição homogênea, coerente e apelativa e não conceber apenas uma exposição com texto e imagens, foi necessário complementar este objetivo base com a capacidade de trazer algum interesse e atração visual com grafismos e ícones. Só neste sentido foi possível comunicar uma mensagem clara e objetiva e refletir a nostalgia e energia deste acontecimento intemporal, principalmente entre o público mais jovem.

Quais foram as principais influências ou fontes de inspiração para o vosso trabalho na exposição sobre o 25 de abril?

Madalena:

Fazendo parte do processo criativo, nós fizemos uma pesquisa detalhada sobre a temática, incluindo documentários, livros, relatórios e questionários. Especificamos toda a informação através de apontamentos, brainstorms e com toda a informação projetual o rumo da comunicação.

Além dessa pesquisa, regularmente consultámos diferentes opiniões, como professores e colegas, para ver a resposta de alguém que estivesse de fora do desenvolvimento projetual.

Como vocês lidaram com a necessidade de tornar a exposição acessível e envolvente para diferentes públicos, incluindo pessoas de diferentes faixas etárias e níveis de conhecimento sobre o 25 de abril?

Carolina:

A acessibilidade é sempre algo a se ter em conta em qualquer área direcionada para o público, especialmente na área do design. Neste sentido e como designers da conceção gráfica de uma exposição de carácter nacional, faz todo o sentido torná-la não só acessível para o público mais jovem, uma vez que ela está principalmente inserida num contexto escolar e académico, mas também acessível para um público mais universal.

Como é um tema pelo qual as gerações mais velhas estão mais familiarizadas, consideramos interessante combinar, de forma apelativa e simples, o conteúdo que remete para essa realidade passada com o conteúdo digital e complementar presente no website e que reflete a realidade atual. Dito isto, penso que conceber uma exposição para diferentes públicos de diferentes faixas etárias, foi algo pela qual já estávamos preparadas.

Como vocês acreditam que o design gráfico pode impactar a forma como as pessoas percebem e entendem eventos históricos como o 25 de abril?

Carolina:

Acredito que o design gráfico e de comunicação desempenham um papel muito significativo na maneira como a mensagem de um evento histórico, como o 25 de abril, é transmitido. Dito isto, é principalmente através de informações visualmente apelativas, claras e acessíveis que o impacto sobre o seu entendimento por parte de quem interpreta, é naturalmente maior e mais bem conseguido.

Neste acontecimento histórico em específico, as cores e a iconografia, como é o caso do cravo, por exemplo, também ajudam na evocação de emoções e de memórias específicas em torno desta data. Por este motivo, as representações visuais associadas acabam por poder influenciar na forma como o público interpreta a mensagem, alterando assim a perceção criada ao longo do tempo sobre a importância da narrativa em torno da mesma e o seu impacto duradouro na sociedade.

Neste momento a exposição está em exibição simultaneamente em vários locais do país. Como se sentem a ver o vosso trabalho ser apreciado pelo público?

Carolina:

Muito contentes sem dúvida. É realmente algo que tanto eu como a minha parceira, nunca pensamos experienciar tão cedo nas nossas carreiras profissionais. Cada vez mais a procura de inserir a exposição em espaços de educação e cultura nos vários cantos do país tem sido cada vez maior e nós, como equipa de design e de conceção gráfica do projeto, não poderíamos estar mais contentes e gratas pela oportunidade de expor e refletir as nossas capacidades gráficas e criativas, num projeto tão grandioso como este se está a tornar. O facto desta exposição dar a conhecer um pouco da História de Portugal de uma forma breve mas objetiva através de uma composição apelativa e interativa acaba por aumentar o entusiasmo e curiosidade do público mais jovem, o que posteriormente também ajuda a expandir o interesse e apreciação do público em geral. Não podíamos estar mais satisfeitas!