Inspiring Alumni – Susete Ornelas Ensinar Língua Gestual Portuguesa: um compromisso pela inclusão
Susete Ornelas nasceu na Madeira e a sua primeira língua foi a Língua Gestual da Madeira, com características próprias da Língua Gestual Portuguesa (LGP). Diplomada pela Escola Superior de Educação do Politécnico de Coimbra, Susete tem um percurso académico e profissional inspirador, marcado pelo profundo compromisso com a promoção da LGP e da educação inclusiva. Licenciada em LGP pela ESEC, Susete concluiu ainda três mestrados na mesma instituição: Ensino de Língua Gestual Portuguesa, Educação Especial e Educação para a Saúde (lecionado em parceria com a ESTeSC).
Enquanto professora surda de LGP, Susete desempenha um papel fundamental na promoção da inclusão e identidade surda e considera que a presença de professores surdos é essencial para a consolidação do modelo bilingue.
As suas motivações, experiências, desafios e reflexões sobre o ensino da LGP, o papel das Escolas de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos (EREBAS), e a importância de tornar a educação verdadeiramente acessível para todos
O que a motivou a seguir LGP para prosseguir estudos no ensino superior?
Aos 11 anos, participei num curso de verão que despertou em mim a consciência da importância da língua gestual não só para a comunicação, mas também para a identidade da pessoa surda. Com o tempo, percebi a falta de profissionais qualificados na ilha, especialmente no setor educativo, o que me motivou a continuar os estudos para promover o reconhecimento da LGP e a inclusão da comunidade surda.
Concluiu na ESEC 3 mestrados: Educação Especial, Educação para a Saúde e Ensino de LGP. De que forma se complementam?
O primeiro mestrado, em Educação para a Saúde, permitiu-me desenvolver estratégias de comunicação com alunos surdos, especialmente sobre temas de saúde. O segundo, em Educação Especial, deu-me bases para compreender melhor a inclusão de alunos com surdez e outras condições, como autismo ou paralisia cerebral. O mestrado em Ensino de LGP foi essencial para aprofundar o conhecimento linguístico e pedagógico da língua. Estas formações complementam-se e permitem-me responder de forma abrangente às diversas realidades educativas.
Pode partilhar os principais desafios e aprendizagens com a sua tese “A Gramática em LGP: análise e materiais didáticos”?
Foi um desafio importante. Escolhi o tema para perceber se os alunos estavam realmente a aprender os conteúdos da disciplina de LGP. Deparei-me com dificuldades significativas: muitos alunos não compreendiam palavras básicas em português relacionadas com a LGP. Além disso, havia escassez de materiais didáticos adequados, o que me levou a desenvolver recursos próprios. Defendo que o ensino da gramática em LGP deve começar no primeiro ciclo, em colaboração com a disciplina de Português, para garantir o desenvolvimento equilibrado das duas línguas.
Como tem sido a sua experiência como professora surda de LGP em Escolas de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos (EREBAS)?
É uma experiência enriquecedora e desafiadora. Sinto que, além de ensinar, sou também um modelo positivo de identidade surda para os alunos. Nas EREBAS, a LGP é reconhecida como língua de instrução, o que é fundamental. No entanto, ainda enfrentamos barreiras institucionais e falta de recursos. A presença de professores surdos é essencial para consolidar o modelo bilingue.
Quais são os principais desafios que enfrenta no ensino da LGP?
Um dos principais desafios é a escassez de materiais didáticos atualizados. Também há falhas na articulação entre disciplinas. Para ultrapassar essas dificuldades, crio recursos adaptados e colaboro com outros profissionais. Envolvo os alunos no desenvolvimento dos materiais, promovendo a autonomia e a valorização da sua própria língua.
De que forma o seu trabalho contribui para a promoção da inclusão e valorização da comunidade surda?
O meu objetivo é mostrar que a LGP é para todos. Trabalho com cerca de 300 alunos ouvintes num agrupamento onde a disciplina é obrigatória desde o primeiro ciclo. Isso permite quebrar barreiras de comunicação e promover inclusão. No entanto, nem todas as escolas oferecem LGP. É essencial que todas, não apenas as EREBAS, integrem esta disciplina no currículo, desde cedo, para garantir uma sociedade mais acessível e inclusiva.